O Ministério Público do Estado do Amazonas (MPAM) ingressou com uma ação civil pública com pedido de tutela de urgência para anular o concurso público promovido pela Prefeitura de Urucurituba, em parceria com o Instituto Merkabah, responsável pela organização do certame. A ação atinge os editais nº 02/2023, nº 03/2023 e nº 04/2023, que ofertaram mais de 700 vagas nas áreas da educação, saúde, assistência social e administração.
A medida foi tomada após a prefeitura ignorar recomendações expedidas em agosto deste ano pelo promotor de Justiça Kleyson Nascimento Barroso, que apontavam uma série de vícios insanáveis no processo seletivo.
Veja também

Aposentadoria antecipada de Barroso é 'demonstração de fraqueza', diz Kim Kataguiri
IRREGULARIDADES COMPROMETEM LEGALIDADE DO CONCURSO
De acordo com o MPAM, o concurso público apresenta falhas que afrontam princípios constitucionais como a legalidade, moralidade, publicidade, impessoalidade e isonomia. Entre os principais problemas destacados na ação estão:
- Ausência de transparência: Não divulgação dos espelhos de provas e das respostas aos recursos interpostos pelos candidatos;
- Acessibilidade comprometida: Inexistência de postos físicos de inscrição, em desacordo com a legislação estadual;
- Cobrança indevida: Candidatos com deficiência foram obrigados a pagar taxa de inscrição, prática vedada por lei;
- Descumprimento da cota para PCDs: Diversos cargos não respeitaram a reserva mínima de 20% das vagas para pessoas com deficiência;
- Discriminação de gênero: Apenas 11 das 60 vagas para guarda municipal foram destinadas a mulheres, medida considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF);
- Curso de formação irregular: Previsto para ocorrer concomitantemente ao exercício do cargo, o que contraria o Estatuto das Guardas Municipais;
- Falta de base legal: Os editais foram lançados em dezembro de 2023, mas as leis que criavam ou ampliavam os cargos só foram publicadas em julho de 2024.
ÓRGÃOS DE CONTROLE TAMBÉM QUESTIONARAM O CERTAME
Em paralelo, o Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM) já havia se manifestado sobre as irregularidades. Em junho de 2025, o órgão declarou ilegal o edital nº 03/2023, relacionado às áreas da saúde e assistência social, determinando sua anulação imediata.
Além das falhas técnicas e legais, o MPAM recebeu denúncias graves sobre favorecimento de candidatos com vínculos familiares com autoridades locais, incluindo o atual prefeito, ex-prefeitos, secretários municipais e vereadores. A banca organizadora, Instituto Merkabah, também é alvo de ao menos dez ações judiciais em outras localidades, segundo o Ministério Público.
MP PEDE EXONERAÇÃO DOS NOMEADOS E ANULAÇÃO INTEGRAL
Na ação, o MP solicita que a Justiça anule integralmente os concursos e determine a exoneração imediata dos candidatos já nomeados, argumentando que os atos administrativos praticados sem respaldo legal são nulos de pleno direito.
A promotoria fundamenta o pedido na Súmula 473 do STF, segundo a qual a Administração Pública pode e deve anular atos ilegais, independentemente do tempo decorrido.
“Trata-se de uma situação gravíssima, em que a própria estrutura legal do concurso foi montada de forma irregular. A manutenção desses atos compromete a lisura do serviço público e a confiança da população nas instituições”, afirmou o promotor Kleyson Nascimento Barroso.
IMPACTO E PRÓXIMOS PASSOS
A ação agora aguarda decisão judicial sobre o pedido de tutela de urgência, que pode suspender imediatamente os efeitos dos editais. Se acolhida, haverá impacto direto sobre os candidatos já nomeados e empossados, além de possíveis sanções administrativas à gestão municipal.
Curtiu? Siga o PORTAL DO ZACARIAS no Facebook, Twitter e no Instagram
Entre no nosso Grupo de WhatApp, Canal e Telegram
O Instituto Merkabah e a Prefeitura de Urucurituba ainda não se manifestaram oficialmente sobre o caso até o fechamento desta reportagem.